Meu Primeiro Amor - Análise do Filme

Eu costumo assistir filmes e ler livros fazendo uma profunda análise dos personagens  e do enredo, devido o meu trabalho. E há filmes muito bons a serem analisados. Um deles é “Meu Primeiro Amor” de 1991.
Uma coisa que não gostei foi a tradução que deram ao título no Brasil e em Portugal. O título original é “My Girl”, sendo que no Brasil é esse que vocês conhecem e em Portugal é “Meu Primeiro Beijo”.
Olha, se eu fosse a roteirista desse filme não ia gostar nadinha dessa história de mudarem completamente o título da minha obra. O título diz muito sobre a história, ele direciona o foco de quem vai assistir.
O título original, “Minha Menina”, em tradução livre, provavelmente foi inspirado em uma das músicas tema do filme, My Girl, dos Temptations. Esse título nos direciona a focar na personagem principal, Vada Sultenfuss, (Anna Chlumski) e eu acredito que a ideia genuína por trás da história é exatamente essa, falar de Vada, seus conflitos pré-adolescentes e o “arco” de seu personagem.
O título adaptado aqui no Brasil foca na relação entre Vada e seu amigo Thomas J. (Macaulay Culkin), relação essa, que nada mais era além de uma grande amizade.
Se prestarmos bem a atenção na história, o foco está nas descobertas e nas transformações de Vada, sua curiosidade, sua explosão de sentimentos e confusões. Em nenhum momento ela considerou Thomas J. como seu primeiro amor, mas sim como um grande amigo, chegando ao ponto de escolhê-lo para “testar” seu primeiro beijo. Quem era considerado por Vada como seu “grande amor”, era, na verdade, o professor de literatura, por quem ela mantinha grande admiração, chegando ao ponto de inscrever-se em um curso de férias só para ficar perto dele.
Bom, se a história é sobre Vada Sultenfuss, vamos analisá-la:
1    1 - A atração pela morte:
A morte perseguia Vada desde o seu nascimento. Sua mãe morreu em complicações no parto dois dias após ela ter nascido e Vada se culpava por isso.
Seu pai era um agente funerário, por isso ela convivia com este cenário fúnebre diariamente, ouvindo falar da morte constantemente.
Vada tinha medo da morte, mas ao mesmo tempo desejava morrer. A morte havia levado sua mãe, mas levado para onde? Para justificar sua vontade de morrer mesmo tendo medo, a filosofia dela era: se não pode com o inimigo, junte-se a ele.
Trazendo para a realidade, se Vada de fato existisse, os pensamentos de morte continuariam a acompanhando até a vida adulta. Talvez viriam de formas diferentes, mas viriam. E provavelmente, durante momentos difíceis ou desesperadores, Vada seria atacada pela ideia do suicídio e a filosofia que pairava em sua mente na infância.
2    2-  Negativa?
Eu fiquei com a impressão de que o filme quis mostrar que havia algo muito negativo em Vada e que ela era vítima disso. Talvez seja essa sensação de que a morte a perseguia.
Os fatos que mostram isso são:
- o anel do humor que ela usava, sempre escuro.
- o peixe que Vada pesca e o devolve ao lago para que viva, mas ele está morto e apenas Thomas J. vê. Há um close no peixe morto nesta cena.
- o pacto de sangue que Vada faz com Thomas J., como se o que estivesse nela passasse para ele. E ele morre.
- Thomas J. morre por causa de Vada, pois vai à mata procurar pelo anel que era dela e é atacado por abelhas.
3- Hipocondríaca
De tanto ouvir falar nas causas das mortes das pessoas, já que seu pai é agente funerário, Vada conhece várias doenças e seus sintomas, sempre achando que sofre de alguma delas.
4    4- Solitária
Vada é uma garota solitária, que não recebe a devida atenção de seu pai. O filme mostra que ela não se dá bem com garotas da sua idade, sendo que seu único amigo é Thomas J. e alguns garotinhos menores que ela costuma aterrorizar.
5     5- Desejo por atenção masculina
A ausência do pai faz com que Vada deseje algum tipo de atenção masculina. Talvez seja exatamente por isso que ela só possua amigos e não amigas. E também por esse motivo se sente atraída por alguém que poderia ser seu pai: o professor de literatura.
Inclusive é para ele que ela corre quando fica sabendo da morte de Thomas J.
6  6-  Inteligente demais para sua idade
É inegável que Vada é extremamente inteligente. Tanto tempo sozinha a fez ler muito e ela afirma querer ser escritora. Gostar do professor também a incentivou.
7    7-  Persuasiva
Desde aterrorizar crianças menores, até convencer Thomas J. a ir escondido ao bingo, vemos que Vada usava sua inteligência como poder de persuasão.
8   8- Tendência suicida
Com a morte de seu melhor amigo, Vada vai até o salgueiro onde costumava brincar com Thomas J. e ameaça se jogar de lá. A cena é cortada e logo em seguida aparece um policial na casa de Vada, nos fazendo pensar que ele está indo levar uma má notícia ao pai dela. Não é mostrado como ela desistiu da ideia de tentar morrer.
Vada também vai ao médico dizendo que, assim como Thomas J. foi picada por abelhas. Dando a entender que naquele momento de desespero desejava morrer, como ele e como sua mãe.
Conclusão:
Não sei se Vada Sultenfuss foi inspirada em alguém, mas é um personagem muito bem criado, os detalhes de sua personalidade foram muito bem montados.
Apesar de notarmos algo de muito sombrio cercando sua vida e os acontecimentos que a rodeiam, o filme termina com uma mensagem positiva. Vada faz amizade com uma garota da sua idade, o anel do humor fica claro (rsrs) e ela agora terá a amizade de sua madrasta, que não é como as madrastas de outras histórias...
Conheço várias pessoas como Vada Sultenfuss, que na infância já foram atacadas por ideias de morte. Eu mesma já tive um período assim quando criança. O fato é que não podemos ignorar o que acontece em nossos primeiros anos de vida, pois sempre há alguma coisa que fica e se reflete na vida adulta.
Através da Fé, consegui resolver meus conflitos, mas sempre penso que, crianças que existem ou existiram por aí como Vada, precisam ter a mesma oportunidade que tive. Pois quando essas ideias acompanham uma pessoa até a vida adulta, elas se tornam perigosas, e somente a Fé pode nos fazer ver que a vida é para ser bem vivida.
De qualquer forma, Meu Primeiro Amor é um filme que indico para que todos assistam. Mas indico que assistam como “My Girl” e que não sejam extremamente sentimentais, pois é uma história para relembrar os conflitos, transformações, amizades e experiências marcantes da infância, não para inundarmos a sala de lágrimas. Só acho.



A inocência está chamando O Caminho que sempre foi. (Innocence - Jeremy Camp)

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