Quando a escola me afastou dos livros.

Sempre gostei muito de ler. Tanto que aprendi a ler antes de ir para a escola, com uns 3 ou 4 anos, com a ajuda da minha tia Leandra.
Cresci lendo gibis e livrinhos infantis que pegava na biblioteca municipal. Além de ler, gostava muito de escrever, e minhas primeiras histórias escritas por pura diversão (sem obrigação escolar) datam dos meus sete anos de idade.
Assim foi até meus 15 ou 16 anos, quando na escola, os professores começaram a nos obrigar a ler os livros clássicos da literatura nacional. Tudo ia muito bem enquanto eu podia escolher os livros que queria ler, mas quando perdi essa liberdade e tinha que ler os tais clássicos para fazer relatórios, o que era um prazer tornou-se um pesadelo.
Os únicos livros que consegui ler até o fim, nesta época, foram Memórias de um Sargento de Milícias e A Moreninha. Os demais, confesso, não consegui chegar à metade. Muito menos após assistir às adaptações para o cinema dos mesmos, algo que também fomos obrigados a fazer na escola.
Vi muitos de meus colegas de escola perderem o prazer pela leitura pelo mesmo motivo que eu: como não podíamos escolher os livros que queríamos ler, geralmente não nos identificávamos com a história, não conseguíamos entrar dentro dela, a imaginação não fluía.
Muita gente gostava dos clássicos, é verdade. Mas muitos estavam no mesmo barco que eu.
Quando comecei a escrever profissionalmente, ficava envergonhada por não ter lido e gostado dos clássicos da literatura nacional. Pensava que, como eu poderia ser uma escritora sem ter devorado todos aqueles livros obrigatórios do colegial?
Foi aí que, para minha surpresa, descobri vários outros escritores, pessoas letradas e com formação reconhecidíssima que, assim como eu, não veem motivo para obrigar adolescentes e jovens que estão descobrindo o prazer de ler um livro a lerem o que não querem.
Como escritores, nós temos que ler de tudo um pouco, conhecer todos os gêneros literários, mas como leitores, nós não somos obrigados a ler nada, muito menos a gostar, só porque a maioria gosta ou porque é imposto.
Sou contra a atitude de alguns professores de literatura e língua portuguesa que escolhem os títulos para seus alunos e que os obrigam a ler livros que na maioria das vezes não irão se identificar de forma alguma.
A leitura prazerosa é aquela feita sem obrigação, espontânea, por livre escolha. Se quisermos formar uma geração de leitores críticos e com alta capacidade de compreensão, esse é o primeiro passo a ser dado: a liberdade de escolher o que se vai ler.
É necessário conhecer os clássicos da literatura nacional? Sim, claro, eles são fatores históricos na construção da língua, da cultura e da sociedade. Porém, para a leitura ser prazerosa é necessário essa liberdade que foi citada ao longo do texto e identificação do leitor com a história. Sem isso, ao invés da escola formar leitores, vai formar pessoas que fogem dos livros.

Por uma época eu estive assim, até descobrir histórias que me prendiam. Porém, essa descoberta foi feita fora da escola. Poderia ser diferente...

"A leitura de um bom livro é um diálogo interessante: o livro fala e a alma responde."
André Maurois - escritor francês.

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